10 novembro, 2017

Entrevista com Nildo Viana - Autor de: A REVOLUÇÃO DOS IGNORANTES

Nome literário de Nildo Silva Viana. É Professor da Faculdade de Ciências Sociais e Programa de Pós-Graduação em Sociologia pela Universidade Federal de Goiás; Graduado em Ciências Sociais; Especialista e Mestre em Filosofia; Mestre e Doutor em Sociologia (UnB); Pós-Doutor pela Universidade de São Paulo. É também autor de contos (A Revolução dos Ignorantes, entre outros), letras de músicas e pesquisador de Histórias em Quadrinhos, tendo escrito diversos artigos sobre essa temática, bem como os livros Heróis e Super-Heróis no Mundo dos Quadrinhos (Rio de Janeiro: Achiamé, 2005) e Quadrinhos e Crítica Social - O Universo Ficcional de Ferdinando (Rio de Janeiro: Azougue, 2012).


É a mais terrível das revoluções. Ela não possui caráter construtivo e todos saem perdendo, fechando as portas para o futuro. A gênese dessa revolução está em todas as forças políticas (conservadores, progressistas, direita, esquerda) que apostam e contribuem com a manutenção da ignorância das classes desprivilegiadas. Para manter e para conquistar o poder, a ignorância é uma arma fundamental e o seu resultado é entravar o desenvolvimento histórico, gerando o retorno da selvageria.



Olá Nildo. É um prazer contar com a sua participação no Blog Divulgando Livros e Autores da Scortecci do Portal do Escritor.

Do que trata o seu Livro? Como surgiu a ideia de escrevê-lo e qual o público que se destina sua obra?
A Revolução dos Ignorantes é uma obra ficcional em quadrinhos, baseada em um conto com o mesmo título, que tematiza a questão das lutas e revoluções sociais e do significado das ideias e da cultura nesse processo. A ideia surgiu da releitura do conto e da ideia de adaptá-lo para os quadrinhos, pois assim ganharia maior visibilidade e um público mais amplo. A obra se destina especialmente aos jovens, pois hoje, na sociedade atual, marcada por ideologias que recusam a teoria, a razão (o irracionalismo, o pós-estruturalismo, etc.) e marcada por uma superficialidade crescente (ao estilo das redes sociais na internet), acabam tendo uma formação intelectual muito precária e ainda com muitos negando a importância da teoria. Como os jovens de hoje serão os adultos de amanhã, caminhamos para uma situação social cujo horizonte não pode ser muito otimista. Além desse público, todos que gostam de histórias em quadrinhos e crítica social, bem como aqueles que gostam de leitura crítica e reflexiva, são outros públicos possíveis. A ideia do conto, por sua vez, surgiu da necessidade de criticar, ironizar e denunciar uma sociedade que cada vez mais se afunda na ignorância, com o perigo de que isso ocorre numa sociedade que desenvolve tecnologia em alta velocidade. A ironia materializada numa realidade marcada por um desenvolvimento tecnológico acelerado convivendo com uma estagnação e retrocesso intelectual, torna este mundo extremamente perigoso e ameaça o futuro da humanidade.

Fale de você e de seus projetos no mundo das letras. É o primeiro livro de muitos ou apenas o sonho realizado de plantar uma árvore, ter um filho e escrever um Livro?
Eu já escrevi cerca de quarenta livros, sendo quase todos teóricos. A minha formação acadêmica é em ciências sociais (especialmente sociologia) e filosofia, mas sou um grande pesquisador do marxismo e da psicanálise. Continuo desenvolvendo pesquisas e escritos, dentro das possibilidades existentes. Para além de obras teóricas, já escrevi um livro de contos e já escrevi vários contos em coletâneas, bem como, no plano da arte, já fiz várias letras de músicas. No caso específico das histórias em quadrinhos, escrevi teoricamente sobre as mesmas (dois livros: Heróis e Super-Heróis no Mundo dos Quadrinhos e Quadrinhos e Crítica Social: O Universo Ficcional de Ferdinando e organizei duas coletâneas: Super-Heróis, Cultura e Sociedade - com Iuri Reblin - e Os Valores Materializados nas Histórias em Quadrinhos). Essa é a primeira obra em histórias em quadrinhos, em colaboração com Gleison Santos, ilustrador. Uma das dificuldades para esse tipo de produção é que não consigo desenhar, apesar de desde criança ter vontade de fazê-lo. Pretendo continuar não só produzindo obras teóricas, mas também quadrinhos. Estou em um projeto com o professor Amaro Braga de levar Marx para o mundo dos quadrinhos e conseguindo a colaboração de desenhistas, posso aventurar em outros projetos que tenho em mente.

O que você acha da vida de escritor em um Brasil com poucos leitores e onde a leitura é pouco valorizada?
É uma situação bastante difícil e para certas pessoas é quase impossível se manter no mundo da produção cultural e da produção de livros, HQs, etc. No meu caso, como faz parte da minha profissão e é uma das coisas que eu mais gosto de fazer, pelo próprio prazer da produção, então é mais fácil. Contudo, seria muito melhor, mais fácil e com menos obstáculos se o hábito de leitura, a produção literária e escrita em geral, fosse mais valorizada e houvesse mais editoras, leitores, etc. E isso fica mais difícil com o processo de mercantilização da produção cultural, no qual o dinheiro está acima de tudo e a qualidade é medida não pelo conteúdo, mas por critérios mercadológicos e burocráticos. Mas é preciso continuar tentando, tanto os iniciantes quanto os mais experientes.

Como você ficou sabendo e chegou até a Scortecci Editora?
Quando comecei o projeto, eu estava buscando uma editora que publicasse histórias em quadrinhos. Como já publiquei um livro teórico pela Scortecci (Karl Korsch e a concepção materialista da História), recebi um e-mail anunciando publicação de história em quadrinhos, então resolvi contatar para ver a possibilidade.

O seu livro merece ser lido? Por quê? Alguma mensagem especial para seus leitores?
Penso que A Revolução dos Ignorantes merece ser lida por vários motivos: é divertida, complexa, crítica, interessante, atual. Assim, muitos podem ler pela diversão, mesmo que nem todo o conteúdo seja facilmente acessível (tal como referências a personagens históricos, acontecimentos, intelectuais, governantes, grupos e movimentos sociais, etc.), mas não deixa de ser cômico e mesmo sem entender algumas destas referências e sua comicidade, o conteúdo como um todo, mesmo para quem não tem acesso a elas, tem muito material para se divertir. Para aqueles que gostam de crítica social, é um prato cheio, bem como para os que gostam de histórias em quadrinhos mais complexas. Outro mérito é a atualidade de sua temática, bem como sua criticidade. Nesse sentido, quem quer diversão encontra isso e quem quer politização, crítica social, etc., também. Esses elementos mostram as razões para se ler tal obra. Uma outra razão, que julgo mais importante, é o alerta que ela lança sobre os destinos da humanidade e da sociedade atual, que caminha rumo ao barbarismo e por isso ela também merece ser lida por contribuir com o avanço da consciência sobre a sociedade atual e suas tendências, inclusive a que aponta para a barbárie. Assim, assume uma importância social que a faz uma leitura importante para além do gosto pelas HQs, leitura, etc. A mensagem especial para os leitores é a que está na obra: a transformação social radical e total é uma necessidade, mas ela só pode se concretizar com o desenvolvimento da consciência, pois através da ignorância, apenas se produz e reproduz o barbarismo.

Obrigado pela sua participação.

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